Retirado de : Jornal Correio dos Açores
08 Novembro 2007
Aos 28 anos, Albano Jerónimo dá vida a João Godunha, o angustiado camionista de Vila Faia. O remake da novela que há 25 anos projectou Nicolau Breyner na carreira estreia em breve na RTP 1.
Vai fazer de João Godunha, que foi interpretado por Nicolau Breyner. Sente o peso dessa responsabilidade?
- Sinto respeito, porque trata-se de um actor que todos nós conhecemos e que é excelente. Sinto-me orgulhoso por me terem dado esta prenda. A personagem é maravilhosa. Mas não sinto peso no sentido negativo. Sinto peso, sim, no sentido positivo, no que respeita ao carinho que essa personagem teve perante o público.
Como se caracteriza a sua personagem?
- É uma pessoa muito prática. É um trabalhador e é genuíno e simples.
Pensa que este papel pode ser um grande marco na sua carreira, como foi na de Nicolau Breyner?
- Sim, eu penso que é. Tem todas as condições para isso já que é uma excelente personagem de televisão e de novela.
Considera que este é o maior desafio da sua carreira?
- Sim, está a ser dos desafios mais complicados até ao momento, sem dúvida.
Já começou a gravar?
- Já, na semana passada. Foi muito bom. O início é sempre um pouco mais complicado, porque se está sempre à procura. Estamos todos um bocado à procura. Trata-se também de um projecto de uma produtora nova, portanto estamos todos no mesmo pé, e isso é óptimo. Mas foi muito interessante, foi estimulante, e deu para perceber a potencialidade de tudo.
Que cena é que gravou?
- Uma cena muito pequena. Foi na fábrica dos Marques Vila, uma cena do dia-a-dia de trabalho do Godunha. Contracenei com o Pompeu, que é meu ajudante.
Como vai ser a aproximação a Mariette, personagem de Inês Castelo-Branco?
- É uma relação de extremos. Se pensarmos objectivamente, trata-se de um camionista, o que quer dizer que é um homem muito prático, que trabalha para sobreviver, e de uma prostituta. Portanto, são pessoas, no que respeita à vida, que estão em extremos, que têm de trabalhar e de safar-se na vida. Encontram-se, cruzam-se e apaixonam-se um pelo outro. É tudo muito intenso e muito genuíno. São pessoas muito solitárias, carentes de afecto, de sentimentos, que não é uma coisa prática ou do dia-a-dia. É algo mais interior, e quando isso acontece é quase trágico.
Na altura em que foi exibida Vila Faia era ainda muito pequeno. Viu algum episódio?
- Não. Estamos a falar de uma novela que foi feita há 25 anos e eu tenho 28, portanto... Mas já tive acesso a cenas, por isso estou a par. Mas também não quis ver muito porque são coisas diferentes, é um projecto diferente que tem por base uma mesma história.
Começou na RTP e passou para a TVI. Agora regressa à RTP... É um regresso em grande?
- Sim, como profissional acho interessante este percurso. Fui muito bem tratado na RTP e na TVI. É um regresso em grande visto que tenho uma personagem maravilhosa para trabalhar.
Como foi escolhido para este papel?
- Foi um convite que surgiu por parte da SP Televisão, nomeadamente a Patrícia Sequeira, que está à frente do projecto. Ponderei e aceitei.
Prefere fazer televisão, cinema ou teatro?
- Gosto de representar. É a actividade que mais gosto de fazer na vida. Tendo em conta isto, gosto de representar, ponto! Sinto que a minha formação é toda em teatro e, de facto, sinto-me com outro à-vontade, o tempo é diferente. Assim sendo, sinto-me em casa. Cinema é uma linguagem que admiro e tenho um interesse enorme. Televisão tem uma particularidade que é o ritmo de trabalho. É uma coisa alucinante e que me estimula imenso.
Está prestes a estrear uma nova peça de teatro, Dentadas. Qual é a história?
- Dentadas pode ser muita coisa! Basicamente, são dentadas no sentido social. Por exemplo, temos um país como os EUA, que é o escudo máximo do capitalismo. A partir daí é imaginar as dentadas que os EUA vão dando no nosso mundo, diariamente. É dentadas nesse contexto, mais político, humano. Esta peça foi escrita em 2005 como manifesto directo anti-Bush. Sendo que foi retirada essa parte mais directa anti-Bush, foi posta mais do lado de uma entidade que pode ser um Putin, um Bush... É uma coisa mais interessante e mais abrangente.
Qual é a sua personagem?
- Faço várias. Todos nós fazemos várias. Faço um condenado em Guantanamo, faço o Harry, um texano que tem um bar, faço o Akim, um árabe que morre à procura de água e que é uma realidade que as pessoas não sabem que existe.
Também é declaradamente anti-Bush?
- Sou declaradamente anti qualquer coisa formatada. Sou antiglobalização, porque penso que se perdem características únicas de um povo. Perde-se o escudo e ganha-se o euro. Não quer dizer que isto seja negativo, não é. Mas sou antiglobalização, e nesse sentido sou anti-Bush, porque é um pouco a democracia em pacotes. Vamos formatar um povo que tem uma religião e uma cultura diferente, e vamos fazê-lo agora seja como for. E com isto não posso estar de acordo com uma pessoa que a nível humano é completamente abjecta.
Tem uma vida bastante ocupada. Sobra-lhe tempo para fazer outras coisas?
- É complicado. Tenho uma vida paralela mas muito dentro daquilo que faço. Gosto mesmo muito do que faço e anda tudo à volta. Tenho amigos... Quando não estou a trabalhar aproveito para dormir, leio, vou ao cinema, ao teatro, passeio. Televisão não vejo muito. Não estou a par de programas que são feitos, mas estou a par de novelas porque tenho amigos que fazem novelas e me contam. Notícias, estou a par, e vejo a SIC Notícias, sobretudo.
Sonha chegar a Hollywood?
- Qualquer pessoa que está nesta profissão deseja ter desafios. Hollywood é um desafio como outro qualquer, mas claro que tem outros condimentos...
E em Espanha, o que está a fazer?
- Estou a fazer a série mais vista lá, que está no ar semanalmente há cinco anos na Telecinco. Chama-se Los Serranos, que também foi feita cá mas não teve tanto sucesso. Os espanhóis vieram cá ver vários trabalhos meus e surgiu este convite e eu aceitei. Já lá estou desde Novembro do ano passado. Vou lá semanalmente, embora agora só volte em Janeiro. Faço um escritor brasileiro casado com uma protagonista e que vai para lá apresentar o seu último livro e acaba por ir morar na casa dela. E a partir daí envolve-se em diversas peripécias com ela e com as amigas. Está a ser uma experiência maravilhosa. É outro meio, outras pessoas, outra maneira de fazer. Falo em castelhano, que já sei desde miúdo. Eles já estão a trabalhar juntos há cinco anos mas entrar ali não foi nada difícil. Foram extremamente simpáticos. Fui tratado maravilhosamente, tanto dentro como fora da série. Fui muito bem recebido.
Fora do ecrã e do teatro, é embaixador da Suzuki...
- Sou embaixador da Suzuki e dos Médicos do Mundo, que agora vão lançar uma campanha. É algo em que faço questão de falar e em que acredito. Se há momentos em que esta profissão faz sentido, acho que nesta campanha faz mais do que sentido. A campanha surge porque em Timor as crianças até aos cinco anos estão subnutridas porque os pais não sabem fazer papas. Têm tudo mas não sabem fazer. Então foi feito um spot onde se ensina de forma muito básica como se faz uma papa. Vai passar lá e cá. É comigo e com a Ana Zanatti.
Gosta de participar activamente nas questões da cidadania? Também deu a cara pelo sim à despenalização do aborto...
- Gosto de participar como cidadão e, tendo a profissão que tenho, que tem mais visibilidade, só tenho de aproveitar este lado mais mediático para fazer chegar mais longe uma opinião, um ponto de vista que eu defendo. Por isso esforço-me para estar presente.
O que sonhava ser em pequeno?
- Queria ser muita coisa... Estudei
1 comentário:
www.sameroomsametime.com
Enviar um comentário